Um dos reis da canção popular do Brasil, Rossi sai de cena aos 69 anos

Em algum momento da segunda metade dos anos 1990, a mídia decidiu transformar Reginaldo Rodrigues dos Santos (14 de fevereiro de 1944 - 20 de dezembro de 2013) em um artista cult - rótulo dado aos astros populares associados ao chamado povão quando eles começam a serem aceitos pelos que ditam as regras do bom gosto. Mas ser cult para Reginaldo Rossi - o cantor e compositor pernambucano que saiu hoje de cena no Recife (PE), aos 69 anos, em decorrência de complicações de câncer de pulmão diagnosticado neste mês de dezembro de 2013 - foi mero detalhe. Para o povo, que cantou suas músicas ao longo de quase 50 anos de carreira, esse rótulo então sempre foi insignificante. Aliás, ignorado. Consagrado por sucessos como Garçom (tema de autoria do artista) e A raposa e as uvas (outra música da lavra própria do cantor), Rossi foi um dos reis da canção popular do Brasil. O Rei do Brega, no jargão da mídia. Cantou as dores de corno, as dores de amores, no tom despudorado de músicas que sempre rechaçaram o aval intelectual. Natural do Recife (PE), o cantor pernambucano iniciou sua carreira em 1964. Integrou o conjunto The Silver Jets em época em que priorizava o rock em seu repertório, tendo como principal influência e referência o som de Roberto Carlos, o Rei da Juventude brasileira nos anos 1960. Tanto que Rossi logo se ajustou ao universo da Jovem Guarda, comandada por Roberto de 1965 a 1967. A discografia foi iniciada em 1966 na Chantecler, selo vinculado à extinta gravadora Continental. Em 1970, ao ingressar na CBS (atual Sony Music) e lançar o álbum À procura de você, Rossi iniciou sua escalada de sucesso no gênero conhecido popularmente como brega. Em 1972, ao gravar o LP que viria a ser intitulado Nos teus braços, Rossi deu voz a seu primeiro grande sucesso nacional, Mon amour, meu bem, ma femme (Cleide). Em 1982, já na gravadora EMI-Odeon, o artista lançou o álbum A raposa e as uvas, batizado com o nome da música autoral que também se tornaria um grande sucesso nacional. Cinco anos depois, em 1987, apresentou no álbum Reginado Rossi - também via Odeon - o sucesso Garçom, que desde então se tornou o maior carro-chefe de seu repertório. Em que pesem esses sucessos populares, a carreira fonográfica de Rossi passou a ser construída de forma mais espaçada a partir da primeira metade dos anos 1990. Dos anos 2000 em diante, já entronizado no gosto popular há décadas, Rossi passou a gravar projetos ao vivo de caráter retrospectivo. À essa altura, ele já era o Rei do Brega, tendo sido reverenciado em 1998 no CD REIginaldo Rossi - Um tributo (Mangroove), quando seus sucessos ganharam registros de nomes como Mundo Livre S/A, Planet Hemp e Zé Ramalho. Mas isso também foi um mero detalhe para o povão que fez de Reginaldo Rossi seu rei há 50 anos.

Por Mauro Ferreira

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