Especial das Seis - Edu Lobo, 70 anos

Edu Lobo, um dos mais importantes compositores do País, completa hoje 70 anos. Visto que Edu exerceu influência capital para a construção deste imaginário e tornou-se um dos “deuses” do olimpo da MPB.

Não fosse nossas lacunas históricas e a indiferença com nosso rico passado A Música de Edu Lobo por Edu Lobo, com a participação do Tamba Trio, o primeiro álbum de Edu, de 1965, não deveria mesmo estar aqui, visto que é digno de cinco estrelas e já nasceu clássico. Mas ele integra esta lista de obras raras por um simples motivo: poucos brasileiros tiveram acesso a este biscoito fino, porque o álbum foi lançado por um pequeno, mas fundamental selo, a gravadora Elenco que, a despeito do sem número de preciosidades que lançou, num curto período, tem pouquíssimas obras de seu catálogo relançadas.

Filho do compositor carioca Fernando Lobo, o menino Eduardo foi incentivado pela mãe, aos 8 anos, a estudar acordeon. O Rei do Baião, Luiz Gonzaga, foi grande influência para ele, que anualmente passava cerca de dois meses em Recife, na casa dos avós, durante as férias, e tinha contato com a cultura nordestina, mas João Donato, um dos artífices da bossa nova, certamente foi influência ainda maior para garotos da zona sul carioca, como Edu, se dedicarem ao instrumento. Aos 14 anos, o garoto decidiu trocar o acordeon pelo violão. Quatro anos depois, em um reencontro casual com Marcos Valle, num ônibus a caminho de Ipanema, Edu empunhava seu instrumento de seis cordas e Marcos, que além de exímio pianista, também havia se dedicado ao acordeon e era grande violonista, encheu-se de entusiasmo com a reaproximação do ex-colega de escola, que não via há cerca de sete anos. O reencontro resultou na formação de um trio, sem grandes pretensões, que sequer chegou a ganhar nome, formado por Marcos, Edu e seu amigo Dory Caymmi.

Não tardou para que as experiências dos garotos avolumassem composições e cada um seguisse seu rumo. Fernando, o pai de Edu, integrava um influente círculo de amigos, que incluía Vinicius de Moraes, Tom Jobim, o letrista Newton Mendonça, João Gilberto, entre outros. Percebendo o talento dos emergentes compositores, não hesitou em aproximar o filho e estes novos discípulos da bossa nova deste círculo exclusivíssimo. E foi Tom Jobim, encantado com as canções de Edu, quem convenceu o produtor Aloysio de Oliveira, dono da Elenco, a lançar um disco do pupilo, em 1965. O pedido foi atendido em grande estilo. Não bastasse acatar o conselho de Tom, Aloysio escalou ninguém menos que o Tamba Trio para acompanhar o cantor nas gravações.

Formado pelo pianista Luizinho Eça, o contra-baixista, flautista e saxofonista Bebeto Castilho, e o baterista Hélcio Milito, o Tamba Trio foi um dos primeiros e mais importantes combos de samba-jazz do Rio de Janeiro. Além de exímios instrumentistas, os músicos do Tamba ainda eram famosos pela impecável harmonização vocal. Luizinho, um requintado arranjador, o preferido de Tom Jobim, foi convidado para também assinar todos os arranjos da estreia de Edu.

Repleto de clássicos, o disco marca também uma ruptura com a temática idílica e ingênua da bossa nova. No turbilhão dos primeiros meses sob a sombra nefasta do regime militar, Edu, artista participativo, integrante do Centro Popular de Cultura do Partido Comunista, com o lirismo peculiar de grande letrista, expõe mazelas seculares do povo nordestino, exalta a insurreição dos negros, e explicita a seus pares de geração a necessidade preme de posicionamento político.

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