Benedito do Rojão e a música: o começo de tudo

João Benedito Marques ficou mais conhecido como Benedito do Rojão por sua maestria em compor, elaborar arranjos, tocar e interpretar alguns ritmos musicais por vezes denominados de regionais, como o coco e o rojão.

Gravou quatro CDs, bastante conhecidos e reconhecidos. Ganhou prêmios e o título de mestre das artes na Paraíba por suas músicas, todas registradas em primeira etapa em um gravador japonês que segundo o próprio Benedito tem uma vantagem em relação aos outros tipo fita K7, pois "não se bitona" (ou como poderíamos dizer mais ou menos tecnicamente, não varia o volume do áudio).

Como ele próprio reconhece, a música sempre fez parte de sua vida e não poderia se imaginar sem ela.

Para conhecer um pouco mais desse grande artista paraibano, nossa equipe (composto por Herbert) passou a desvendar quais foram as primeiras influências musicais de Benedito e nesse percurso descobrimos algumas questões interessantes e inusitadas, que vale a pena repassar para nossos leitores.

Nascido em 1938, num lugar denominado Fazenda Juá, próximo ao Distrito de Catolé de Boa Vista, Benedito não teve acesso na infância a meios de produção e circulação artísticos-culturais fornecidos pelo Estado como teatros, cinemas, praças com coretos, bibliotecas, entre outros. Não era época do rádio, pois o mesmo só chegou em Campina Grande e região a partir de 1948. Também não haviam muitas festas por onde nasceu. Assim, a possibilidade pelo contexto de adquirir conhecimentos e técnicas artísticas parecia ser inexistente.

Entretanto, Benedito filho é filho do Benedito pai, e isso fez uma grande diferença em sua vida.

Benedito, o pai, tem sobrenome Eleotério. Natural de Goiana, Pernambuco, depois de muitas andanças e mudanças, veio parar na Paraíba, mais exatamente entre Alagoinha, então distrito de Guarabira, isso possivelmente ainda na década de 20 do século passado. Consigo trouxe uma série de influências culturais, entre elas o coco. Ainda muito jovem já cantava e tocava, além de saber confeccionar alguns instrumentos.

A mãe de Benedito, era Regina Maria da Conceição, natural de Alagoa Grande. Benedito nos afirmou que ela aprendeu a tocar com seu pai, mas acreditamos que possivelmente ela teve, pelo menos, contato com o coco e outros ritmos desde jovem, na sua cidade, pois Alagoa Grande possui tradição no que diz respeito a música. Como exemplo, lembramos que desde tempos imemoriais as comunidades quilombolas e suas remanescentes de Alagoa Grande, possuem uma rica tradição nas músicas e danças, como o próprio coco e a ciranda. Além disso, uma célebre pessoa de nome Flora Mourão (mãe do futuro Jackson do Pandeiro), por essas épocas animava festas na zona urbana, mas principalmente nos sítios, tocando e cantando coco.

Esse era um pouco, muito pouco, do contexto vivido na época em que Regina se casou com Benedito Eleotério.

Dessa união entre Benedito, o pai, e Regina, além de uma família também nasceu uma roda de coco, ou um coco-de-roda como melhor ficar. Segundo Benedito do Rojão: “foi daí que fizeram um conjunto, fizeram um conjunto de coco ai cantava pai, minha mãe, meus tios, meus tios, meu avô que era de Alagoinha, o pai da minha mãe né, meu avô, minha avó. Nesse tempo era um povo novo mais ou menos nesse tempo. Eu não que eu num tinham nem parença de ser vivo.”

Entre os instrumentos dessa roda-de-coco podemos citar a zabumba, triângulo, caixa, ganzá e pife (ou pífano).

Depois de certo tempo, possivelmente no transcurso da década de 30, praticamente toda a família muda-se para a fazenda Juá, em Catolé de Boa Vista. Continuam com a prática do coco-de-roda. Benedito Eleotério continuava sendo o mestre da roda.

Desde bebê Benedito do Rojão acompanhava, nos braços dos pais e outros familiares, os sons e passos do coco. Com o tempo passou a tocar caracaxá, que é uma espécie de chocalho. Suas primeiras lembranças dessa roda remontam possivelmente aos seus nove ou dez anos de idade, quando brincava solto entre as inúmeras pessoas que aglomeravam e se entrelaçavam participando da brincadeira de coco, como era falado na época.

Das músicas cantadas na roda de coco dos seus familiares, Benedito se lembra de algumas. Depois de uma longa noite de festejos e alegria, quando o sol começava a nascer, normalmente o coco-de-roda terminava assim: “ô dia, ô dia, ô dia ô dio dei. Quebra a barra e nasce o sol, deixa o dia amanhecer. Ô dia, ô dia, ô dia ô dio dei. Quebra a barra e nasce o sol, deixa o dia amanhecer.” Isso era um coco que eles cantavam. Quando tava perto de amanhecer o dia ai pai dizia: “Eu vou cantar a derradeira. Que eu vou me imbora tirar o leite e vocês fica ai. Eu vou cantar.” Ai ele cantava esse coco.”
Um pouco de tudo isso, com um pouco de tudo o mais, foi assimilado por Benedito do Rojão. 

Um pouco de tudo isso chegou até nós por meio de sua memória. Muitas outras influências esperavam Benedito ao longo do seu trajeto de vida, mas já estavam dados os primeiros passos...

Comentários

Postagens mais visitadas