O Fole Roncou

Sanfona, acordeon, gaita. Não importa o nome que se dá a esse instrumento híbrido. A verdade é que ele está na moda. Usado nos ritmos tradicionais nordestinos e sulistas, hoje em dia a sanfona expande essas barreiras e aparece também na música sertaneja e, algumas vez, no pop e na MPB.
 
O documentário “Milagre de Santa Luzia” (2008), idealizado por Dominguinhos, demonstrou a força do instrumento no Brasil. No filme, o músico percorreu o país de carro visitando os mais relevantes sanfoneiros da história, como Mariozan, Sivuca e Renato Borghetti. Mas não é só nessa produção cinematográfica que a sanfona se destaca. Em “Dois Filhos De Francisco”, é nítida a importância que o instrumento teve para a formação musical de Zezé Di Camargo. E, tão importante quanto, a cinebiografia de Luiz Gonzaga demonstra como o músico inventou um novo jeito de manusear o fole, que desde então nunca mais foi tocado muito aberto na execução do forró.
 
A nova geração que mantém viva a sanfona na música popular tem alguns nomes de destaque. Marcelo Jeneci, Dorgival Dantas, Targino Gondim, Toninho Ferragutti, Cezzinha e Chambinho estão nesse time em evidência. Cezzinha, por exemplo, engatou carreira solo em 2012, após ficar conhecido por suas participações em trabalhos de grandes nomes da MPB, tais como Elba Ramalho, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Dominguinhos, Roberto Carlos e Zelia Duncan.
 
O primeiro projeto dessa caminhada é um DVD gravado no Chevrolet Hall, em Recife. Cezzinha explora não só o forró, mas também uma MPB mais romântica, o que serve para mostrar a versatilidade do instrumento. “Durante muito tempo, a sanfona ficou ligada apenas ao forró. Mas com Sivuca, Osvaldinho, Dominguinhos e outros grandes ícones, passou a dialogar com a música clássica e a MPB. E é o que tento fazer: expandir o ramo de atuação do instrumento”, comenta Cezzinha.
 
Essa tendência ao ecletismo na sonoridade de Cezzinha é fruto das influências que teve ainda no início da carreira. Aos 12 anos de idade, o músico saiu de casa para tentar a vida em apresentações noturnas. Foi quando conheceu Terezinha do Acordeon, que o convidou para integrar a “Orquestra Sanfônica”. Foi ali que enxergou as diversas possibilidades do instrumento. “Tanto que no meu disco gravei axé, xotes e muitos outros estilos. Tudo isso para mostrar as possibilidades infinitas da sanfona. Espero que novos músicos sigam pelo mesmo caminho. Sei que o instrumento é caro e difícil de tocar, mas com a música pop tão dependente da sanfona no Brasil hoje em dia, fica mais fácil ver gente se interessar pelo instrumento”, explica Cezzinha.
 
Made In São Paulo
 
Já Chambinho é fruto do ecletismo paulistano. Natural do bairro de Santo Amaro, na zona sul da capital, aprendeu a tocar sanfona enquanto participava das cenas de samba e hip hop da periferia. “Primeiro toquei teclado, acompanhando o pessoal do samba e da MPB. Fui assumir a sanfona só em 2000, com o estouro do forró universitário. Foi quando entrei para a banda Kayana, onde gravei alguns discos bem-sucedidos. Também toquei com a Banda de Pífanos, Gil, Fagner e Moraes Moreira nessa época. Só decidi pela carreira solo em 2007″, recorda.
 
E a história de Chambinho está intimamente ligada a esse resgate da sanfona e da divulgação do grande legado de Luiz Gonzaga. Ele interpretou o músico no filme “Gonzaga: De Pai Pra Filho”. “Fiz o teste de última hora, no Rio. Fui convidado a participar da preleção do filme. Logo eu, que nunca tinha nem entrado num set de filmagem. Mas como me pareço muito com o Gonzagão na juventude, deram essa chance pra mim. Me empenhei ao máximo para fazer bonito. E o resultado agradou”, recorda Chambinho.
 
O filme, que também foi exibido como seriado pela Globo, teve boa recepção da crítica especializado e do público. “Perdi dez quilos para interpretar o personagem, fiz fonoaudióloga, fiquei meses longe da família, mas valeu a pena. Tanto que recebi convites para atuar novamente. Mas nos próximos dois anos quero me dedicar exclusivamente à música, gravar um DVD e cair na estrada. Preciso aproveitar o bom momento para finalmente emplacar meu trabalho como cantor e sanfoneiro”, explica.
 
Por Hélder Maldonado

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